Há alguns anos, eu estava com a minha família, e fomos passar uns dias numa cabana na floresta a beira de um lago distante. Na verdade, nós estávamos no meio do nada.
Uma manhã, meu filho Davi e eu acordamos e fomos dar uma caminhada ao redor do lago. Era uma daquelas manhãs em que não havia nuvens no céu. Os pássaros cantavam e o meu filho Davi tinha pouco mais de um ano na época. Ele estava fazendo os ruídos que bebês de um ano fazem, e eu o carregava nas costas, em uma mochila para bebês. Durante a caminhada, eu o ouvia fazendo aqueles sons.
Então seguimos pela floresta para dar a volta no lago. E foi um desses...Já teve um momento que sentiu vontade de congelar? Era tão lindo.
Chegamos ao outro lado do lago. Era exatamente a metade do percurso. Estávamos no ponto mais afastado da cabana, e estávamos fazendo a curva para retornar, quando eu notei as nuvens. E começou a chover. Sempre chove, não é?
É interessante pois as Escrituras falam várias coisas sobre chuvas e tempestades. Quando Jesus ensina sobre o significado da vida, sobre a plenitude da vida em Seu Reino, quando Jesus fala disso, Ele cita pessoas diferentes. Ele fala daquela pessoa que edifica sua casa sobre a areia, rejeitando Seus ensinamentos, e de alguém que edifica sua casa sobre a rocha, edificando sua vida sobre os ensinamentos de Jesus. E a metáfora que Ele usa é de uma tempestade que surge, e a pessoa que rejeitou Seus ensinamentos e Sua verdade edificou uma casa sobre a areia que é destruída. Mas a casa edificada sobre a rocha permanece.
Esse é o conceito que Jesus usa, "Quando a chuva começa." Não é uma possibilidade, é uma certeza. Chove muito em nossas vidas
No começo, eram apenas algumas gotas, então eu cobri a cabeça de Davi com o capuz dele. Mas eu não percebi quando ele o tirou. E aos poucos as gotas começaram a aumentar, e a cair mais rapidamente. E logo era uma torrente. Era o tipo de chuva que encharca tudo, seu cabelo fica grudado na cabeça. O tipo de chuve que encharca a sua roupa.
A principio, os trovões e relâmpagos não assustaram o Davi. Mas eles se avolumaram e ficaram mais barulhentos, o vento tornou-se mais intenso, as árvores começaram a sacudir, e Davi começou a se agitar. Eu o sentia nas minhas costas. Ele começou a choramingar, soltando um gritinho de vez em quando. Mas logo Davi estava berrando com toda a força de seus pulmões.
O vento soprava forte. Havia relâmpagos e trovões, a chuva forte estava nos encharcando, e as árvores já não ofereciam nenhum abrigo. E Davi, do fundo de seu ser, começou a berrar e clamar tão alto, com muita aflição e terror na sua voz.
É interessante, pois se buscar pela palavra "clamar" nas Escrituras, descobrirá que essa palavra aparece repetidamente. Até no Livro dos Salmos, apenas no Livro de Salmos, se você ler o texto, ele fala repetidamente de clamar a Deus.
Deus diz coisas incríveis. Ele diz. "Quando clamarem por Mim, Eu ouvirei." Ele até diz, "Não posso ignorar um aflito que clama por Mim."
É como se eu estivesse sofrendo, perdido, molhado, assustado, confuso, e Deus dissesse, "Você clama e Eu ouço."
Deus até diz que quando você clama, Ele está próximo dos sofredores. Ele está próximo dos que clamam e admite que estão assustados, perdidos, molhados e confusos.
Há uma idéia falsa e distorcida entre pessoas religiosas de que você precisa estar equilibrado para ter uma relação com Deus. Que Deus só cuida de pessoas que não tem problemas e que têm tudo resolvido e estão felizes o tempo todo. Mas as Escrituras pregam diretamente contra este raciocínio. Aliás, Jesus é muito direto quando diz, "Vinde a mim, todos os que estão cansados e oprimidos."
A essência da Salvação é clamar a Deus e admitir: "Eu não tenho tudo resolvido."
É admitir, "Eu estou perdido e sofrendo. E essa natureza pecadora que eu trago comigo estragou tudo para mim. Se Deus não me indicar o caminho, se Ele não concertar as coisas, se não interferir eu morrerei aqui."
Esse tipo de raciocínio permeia as Escrituras. Repetidamente Deus nos diz: "Quando vieres a Mim, virás com toda a tua bagagem, e com todos os teus problemas. Venha a Mim com as complicações, com toda a confusão. E Eu cuidarei de ti."
Jesus sai procurando pelas pessoas. Ele até diz isso. Ele diz, "Eu não vim pelos que têm saúde. Eu vim pelos enfermos."
É interessante pensar na tempestade do ponto de vista do Davi. A realidade dele era a tempestade, ele não via mais nada. Os relâmpagos, trovões, as árvores sacudindo, as gotas de chuva escorrendo pelo seu corpo. Era tudo que ele percebia, ele não via nada além da tempestade. Oque Davi não percebia era que, como seu pai, eu faria de tudo para levá-lo para casa.
A esse ponto Davi estava berrando com toda a sua energia, em estéreo, atrás da minha cabeça. Eu parei, me ajoelhei e o tirei da mochila. Eu o aconcheguei em meu peito e o guardei com meus braços. O segurei bem firme, contra o meu coração. E na última milha da caminhada, eu passei o tempo todo inclinado, sussurrando em seu ouvido repetidamente: "Eu te amo, filho. Nós vamos superar isso. O papai conhece o caminho. Nós vamos conseguir. Eu te amo, filho."
Repeti isso sem parar.
Eu o levei para casa na tempestade, firmemente seguro contra o meu peito, sussurrando, "Eu te amo, filho. Nós chegaremos lá."
Agora imagine se anos depois, Davi estiver em terapia e recuperar esse lembrança reprimida da caminhada. E se ele me disser: "Pai, por que me deixou passar por aquilo? Eu guardei essa bagagem comigo. Achei que me amasse. Como pôde me expor a uma tempestade tão horrível? Por que não me protegeu?"
Eu ficaria arrasado, pois para mim aquela caminhada era uma das lembranças mais profundas e íntimas da minha vida com meu filho. Eu não trocaria aquela experiência por nada.
Talvez você sinta amargura ou raiva dentro de si por algumas coisas que passou, algumas tempestades na sua vida, e você indaga, "Se Ele realmente me amasse, se Deus estivesse lá, Ele não me deixaria passar por aquilo."
E talvez Deus esteja dizendo: "Você nao entende? Eu o abracei firme, e eu o recordei repetidamente: Eu te amo, filho."
Como está nas Escrituras, no livro do Deuteronômio, capítulo 1, Deus recorda Seu povo de como Ele foi bom para eles, dizendo: "Lembram-se? Eu os carreguei como um pai carrega um filho."
E agora, quando estiverem molhados, perdidos, sofrendo, confusos, que você possam clamar, e que o Criador do Universo os tire da mochila. Que Ele o segure firme junto ao Seu peito. Que Ele o abrace em Seus braços amorosos, e que você ouça o sussurro: "Eu te amo, filho. Nós vamos conseguir. Papai conhece o caminho da casa. Nós vamos conseguir. Eu te amo."
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
Chuva
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